Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés é um livro que nos oferece, através de contos de culturas indígenas e ancestrais, a chance de nos redescobrirmos como pessoa, como sujeitos de desejos e vontades.
Nossa “selvageria”, posso dizer, se equivale ao nosso inconsciente indomável.
Por que indomável?
Porque o inconsciente é o continente que abriga o que há de mais intimo. É nossa essência, nossa verdade. Ele se rebela contra as mordaças que nosso ego tenta impor através das regras, restrições, proibições. E quando o desejo inconsciente não tem espaço para se expressar, o sujeito se vê tomado por sintomas no corpo e na mente. Sim, porque o inconsciente se manifesta através dos sonhos, atos falhos, chistes e pode se condensar em sintomas.
Sabemos que os contos, os mitos, os personagens heroicos contém um oceano de significados que retratam a condição humana.
Pensando no sofrimento da mulher, cada vez mais inibida na sua expressão, Clarissa seleciona esses contos para apontar que, sob o domínio dos homens e com a conivência de muitas mulheres, o sistema subjuga mulheres através da ditadura da juventude e beleza, do imperativo da docilidade e visa a domesticação da mulher.
A leitura nos convoca a redescobrir o nosso lado selvagem, indomável, que, tal qual a loba, precisa encontrar a sua matilha e fugir da predação. É um resgate da autoestima, autoconfiança e auto-respeito. Um convite à estabelecermos conexão com nosso eu, nossos desejos, valores e identificações.