Como se comportam os parceiros numa relação abusiva?

Como se comportam os parceiros numa relação abusiva?

O relacionamento abusivo se caracteriza quando há sofrimento de uma das partes envolvidas na relação, seja pela violência física, verbal, emocional, psicológica ou sexual. Nas relações heterossexuais, aparecem na maioria das vezes, como dominação do homem sobre a mulher. Isso porque o domínio do homem sobre a mulher é naturalizado pela cultura e, é o homem quem tem ditado as regras, quem possui lugar privilegiado e de dominação social. Ainda assim, há raros casos de relações abusivas da mulher sobre o homem. Nas outras relações afetivo-sexuais também se vê, com frequência, relações abusivas entre os parceiros.

Em todos os casos de relacionamento abusivo, o início da relação é pautada em muito carinho e atenção. Aos poucos o abusador vai exercendo domínio e controle num crescendo que culmina com a violência física e privação de contato social da vítima. Muitas vezes, o abusador ameaça a vítima ou se vitimiza. Alega ciúmes, desequilíbrio ou excesso de cuidado. A vítima acaba por se sentir culpada pelos conflitos, achando que poderia evita-los se se comportasse da forma que o abusador determina.

Aos poucos ela vai perdendo a identidade, se portando conforme o companheiro exige e se afastando dos amigos e familiares por vergonha ou para evitar conflitos. Quando ela se isola, se torna mais vulnerável e acaba por suportar maiores abusos ainda. Para o abusador, as exigências não tem limites. Ele sempre vai encontrar um motivo para ficar descontente. A parceira nunca o agradará totalmente.

Quando há presença do álcool e outras drogas, a relação abusiva fica ainda mais perigosa, porque a violência física ficará mais premente e descontrolada.

Existem três tipos de abusadores.

  1. O violento explicito. Esse tipo mostra desde o início alguns indícios de agressividade, mas compensa a vítima com agrados e mimos. Ele sente que a mulher é sua propriedade e pode agredi-la se ela não atende as suas determinações. Se a vítima tenta afastar-se, muitas vezes o abusador usa de ameaças de violência, com o intuito de inibi-la e amedronta-la.
  • O violento camuflado. A violência aparece camuflada em brincadeiras e comentários inocentes. Muitas vezes, aperta o braço, aperta a bochecha, impede o movimento da mulher com o corpo, dá tapinhas que diz ser demonstração de carinho e nunca assume que é violento. Exerce controle sobre a mulher, telefonando por exemplo via câmera para ver onde ela está e diz que é apenas por saudades. Quer saber de onde ela conhece todas as pessoas da sua rede social, mantem o acesso das senhas dela e acompanha a as suas conversas. Impede que ela fique com as amigas dizendo que não gosta delas por algum motivo inexplicável. Dificilmente elogia as realizações da mulher. Procura diminuí-la diante de outras pessoas apontando ou exacerbando os defeitos que ela tenha. Muitas vezes faz comentários desagradáveis e fala que é para o bem dela. Se ela se queixa, ele diz que é brincadeira ou que ela entendeu errado. Gera dúvida na mulher e ela demora a sentir-se com necessidade de sair da relação. Como não há violência explicita, ela acredita que pode suportar e que ele vai mudar.
  • Manipulador sutil. Esse é o mais difícil dos abusadores, porque ele ataca a auto-estima da mulher de forma sutil, e ela dificilmente percebe a manipulação. Sua tática é ficar emburrado, distante, indiferente a hora que ela menos espera. Se estão num ambiente público, ele simplesmente fecha a cara e ela não sabe o por que ele mudou o comportamento. Se ela pergunta, ele diz que não é nada. Ela desconfia que é algo que ela fez e fica tentando adivinhar o que o desagradou. Essa cena se repete inúmeras vezes e a mulher começa então a “pisar em ovos”, fica ansiosa e se esforça por agradá-lo. Aos poucos vai mudando o tipo de roupas e acessórios que usa, muda o jeito de agir, o modo de falar… tudo com a intenção de agradá-lo. O manipulador sutil nunca fala o que realmente o desagrada e alega que não está pedindo nada para ela. Dificilmente elogia ou aceita as opiniões ou sugestões dela. Se mostra agradável com as outras pessoas e evita demonstrar o conflito que se estabelece no casal. Ninguém realmente sabe do que ele é capaz.

Muitas vezes, na relação abusiva a mulher convive com os três tipos de abusadores, simultaneamente. O sujeito a agride fisicamente, a ameaça, a diminui diante das pessoas, mantém a dependência dela, a vulnerabiliza, a desconsidera e ainda se mostra indiferente, distante e insatisfeito. A culpabiliza diretamente pelos conflitos, alegando que se ela fosse ou fizesse diferente, ele não ficaria nervoso. Ele alega que ela o descontrola e que o faz “perder a cabeça”. Se sente que vai perde-la, se esmera em pedidos de perdão, promessas de que vai melhorar e que não consegue viver longe dela.

Ela acredita que ele vai melhorar, dá-lhe outras chances até que fica desacreditada pelos amigos e família, sente-se sozinha e vulnerável. Esse é o momento que se instala a depressão, podendo leva-la ao autoextermínio.

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